Leite de baixo carbono é possível em qualquer sistema?
- Bruna Silper
- 15 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 18 de jul.
Em um mundo cada vez mais atento aos impactos ambientais da produção de alimentos, o leite de baixo carbono desponta como uma meta possível e necessária. Mas há um equívoco comum nessa discussão: acreditar que apenas o leite produzido a pasto pode ser considerado sustentável. A verdade é que todo sistema de produção, do extensivo ao confinado, pode avançar na redução de emissões, desde que sejam adotadas práticas bem planejadas e ajustadas à realidade de cada fazenda.
Neste artigo, exploramos os principais caminhos para tornar a produção leiteira eficiente, rentável e de baixo impacto climático, com base em abordagens científicas, dados do Inventário Nacional de Emissões de GEE e experiências de campo.

O que significa “baixo carbono” na pecuária leiteira?
Produzir leite de baixo carbono não significa zerar as emissões, mas sim reduzir a intensidade das emissões de gases de efeito estufa (GEE) por litro de leite produzido, considerando toda a cadeia da porteira para dentro. Isso inclui metano entérico, manejo dos dejetos, origem e uso dos alimentos, uso de energia, entre outros.
Por que o metano preocupa tanto?
O metano (CH₄), emitido principalmente pelo processo de fermentação entérica nos ruminantes, tem um potencial de aquecimento global 28 vezes maior que o CO₂ em um horizonte de 100 anos. Mesmo com sua vida curta na atmosfera, uma vantagem em relação ao CO₂, a contribuição do metano para o aquecimento global é significativa e imediata.
Por isso, reduzir essas emissões é estratégico tanto do ponto de vista climático quanto da competitividade da cadeia leiteira, que já começa a ser cobrada por indicadores ambientais.
Eficiência produtiva: a peça-chave
Independentemente do modelo produtivo, quanto mais leite uma vaca produz, menor a emissão de GEE por litro de leite. Essa é a base do conceito de intensidade de emissões. Melhorias em genética, manejo alimentar e sanidade contribuem diretamente para essa eficiência e redução da pegada de carbono do leite.
Nos sistemas confinados, por exemplo, a alimentação de precisão e o monitoramento individual permitem ganhos expressivos em desempenho e eficiência, reduzindo a pegada de carbono.
Pastagens bem cuidadas ajudam, mas não são exclusividade
Sim, pastagens bem manejadas podem funcionar como sumidouros de carbono, estocando CO₂ no solo e contribuindo para um balanço mais favorável de emissões líquidas. No entanto, é importante destacar que isso não torna outros sistemas inficientes em termos de pegada de carbono. O baixo carbono pode ser alcançado também no confinamento, com adoção de tecnologias e boas práticas ambientais.
Por isso, o foco precisa estar menos em onde a vaca está e mais em como ela é manejada.
Manejo de dejetos: problema ou solução?
Outra fonte relevante de emissões é o manejo dos dejetos. O metano liberado durante a decomposição de fezes e urina pode ser captado e transformado em energia, com uso de biodigestores, por exemplo. Já a compostagem pode mitigar emissões e ainda gerar fertilizante orgânico de qualidade.
Aqui, novamente, todos os sistemas podem colher resultados, desde que apliquem soluções adaptadas à sua realidade.
Medir é o primeiro passo
A decisão de reduzir emissões começa com a quantificação da pegada de carbono. Ferramentas como a PEC Calc permitem conhecer as emissões de GEE por litro de leite produzido com base em dados reais de cada fazenda. Essa informação é essencial para identificar os pontos críticos, estabelecer metas e monitorar avanços na redução da pegada de carbono.
Mais do que um número, calcular e conhecer a pegada de carbono do leite de cada propriedade é um passo para a gestão estratégica, seja da fazenda ou do laticínio, comprovando o comprometimento com a sustentabilidade e demonstrando o resultado das medidas adotadas ao longo do tempo.
Todos podem contribuir
Não existe um modelo único de sustentabilidade. O que existe é a possibilidade real de transformar o sistema de produção atual em um modelo eficiente, resiliente e de menor impacto climático, seja a pasto, em semiconfinamento ou em confinamento total.
Com conhecimento, assistência técnica e tecnologia, cada propriedade pode encontrar o seu caminho para produzir leite de baixo carbono.
Leite e clima: onde queremos chegar?
O futuro da pecuária leiteira está diretamente ligado à capacidade de inovar e se adaptar. Ser parte da solução climática global não é mais uma escolha, e sim uma demanda crescente da sociedade, dos mercados e das políticas públicas.
Investir em estratégias de baixo carbono é investir na longevidade da atividade, na valorização do produto e do setor, e na construção de um futuro mais equilibrado para a atividade rural e para o planeta.
Quer dar o primeiro passo?
Reduzir as emissões começa com o diagnóstico. A ferramenta PEC Calc permite calcular a pegada de carbono da sua fazenda de forma simples e rápida. De posse deste indicador, é possível identificar os principais pontos de emissão e embasar estratégias personalizadas de mitigação.