Como o intervalo entre partos e o desempenho reprodutivo afetam a produtividade, a pegada de carbono e a sustentabilidade na pecuária leiteira.
Introdução
A pecuária leiteira enfrenta o desafio de equilibrar produtividade e sustentabilidade, especialmente em um cenário onde eficiência é vital para atender às crescentes demandas ambientais e econômicas. Estudos recentes analisaram como o desempenho reprodutivo impacta diretamente a composição do rebanho, a produtividade e as emissões de carbono.
A texto a seguir foi criado com base nos trabalhos: "Contraste de baixo e alto desempenho reprodutivo em composição do rebanho, produtividade e pegada de carbono no sistema de produção leiteira" (Abreu et al., 2024) e "Efeito do intervalo entre partos na produtividade e pegada de carbono em vacas de alta produção" (Carvalho et al., 2024). Com base em dados de duas fazendas comerciais brasileiras e utilizando a metodologia de Análise de Ciclo de Vida (ACV), esses estudos realizaram simulações e contextualizam como as decisões reprodutivas podem influenciar a sustentabilidade na produção de leite.
Perfil das fazendas utilizadas nos estudos
Fazenda 1: Base do estudo "Contraste de baixo e alto desempenho reprodutivo em composição do rebanho, produtividade e pegada de carbono no sistema de produção leiteira" (Abreu et al., 2024):
Localização: Estado de Minas Gerais, Brasil.
Rebanho total: 1.037 animais, incluindo vacas em lactação, vacas secas, novilhas e bezerros.
Vacas em lactação: 421 vacas da raça Holandesa.
Sistema de manejo: Compost barn.
Idade ao primeiro parto: Média de 24 meses.
Intervalo entre partos: Média de 14 meses.
Produção média de leite: 32 litros/vaca/dia.
Fazenda 2: Base do estudo "Efeito do intervalo entre partos na produtividade e pegada de carbono em vacas de alta produção" (Carvalho et al., 2024):
Localização: Estado de Minas Gerais, Brasil.
Rebanho total: 795 animais, incluindo vacas em lactação, vacas secas e novilhas.
Vacas em lactação: 200 vacas da raça Holandesa.
Sistema de manejo: Compost barn
Intervalo entre partos: Média de 14 meses.
Produção média de leite: 34,5 litros/vaca/dia.
Essas fazendas forneceram as bases para simulações de diferentes cenários reprodutivos e produtivos, explorando os impactos de ajustes de manejo e desempenho na sustentabilidade.
Impacto da eficiência reprodutiva na pegada de carbono
O estudo conduzido por Abreu et al., 2024, com dados da Fazenda 1, modelou cenários de alta e baixa eficiência reprodutiva.
Metodologia: A Análise de Ciclo de Vida (ACV) foi aplicada para calcular as emissões totais de carbono associadas a cada cenário, incluindo emissões entéricas, manejo de dejetos e uso de insumos.
Tabela 1: Relação entre idade ao primeiro parto, intervalo entre partos e pegada de carbono nos cenários simulados
Idade ao primeiro parto (meses) | Intervalo entre partos (meses) | Pegada de Carbono (kg CO₂/kg de leite FPCM) |
24 | 12 | 0,79 |
36 | 16 | 1,07 |
Baseado em Abreu et al., 2024
Intervalo entre partos e emissões de carbono
O estudo de Carvalho et al., 2024, com dados da Fazenda 2, investigou o impacto de diferentes intervalos entre partos na produtividade e pegada de carbono.
Metodologia: Assim como no primeiro estudo, a pegada de carbono foi estimada utilizando Análise de Ciclo de Vida (ACV), considerando as emissões associadas a cada cenário.
Resultados resumidos:
Intervalo de 12 meses: Maior produtividade (37,2 litros/vaca/dia) e menor pegada de carbono (0,7860 kg CO₂/kg de leite FPCM).
Intervalo de 14 meses: Produtividade intermediária (34,5 litros/vaca/dia) e emissões de 0,8206 kg CO₂/kg de leite FPCM.
Intervalo de 16 meses: Menor produtividade (32 litros/vaca/dia) e maior pegada de carbono (0,8652 kg CO₂/kg de leite FPCM).
A pegada de carbono do leite no cenário de IEP de 16 meses foi 10% maior quando comparada ao cenário de IEP 12 meses. |
Tabela 2: Impacto do Intervalo entre partos na produtividade e pegada de carbono
Intervalo entre partos (meses) | Produtividade (litros/vaca/dia) | Pegada de Carbono (kg CO₂/kg de leite FPCM) |
12 | 37,2 | 0,786 |
13 | 35,8 | 0,791 |
14 | 34,5 | 0,821 |
15 | 33,2 | 0,844 |
16 | 32,0 | 0,865 |
Baseado em Carvalho et al., 2024
Gráfico 1: Impacto do Intervalo entre partos na produtividade e pegada de carbono
Baseado em Carvalho et al., 2024
Metodologia dos Estudos
Como indicado neste post, em ambas as publicações, os autores utilizaram como base dados reais coletados em duas fazendas comerciais para parametrizar as simulações de cenários. A aplicação da Análise de Ciclo de Vida (ACV) garantiu que as emissões estimadas incluíssem aspectos diretos (como fermentação entérica e manejo de dejetos) e indiretos (como produção de insumos e transporte). Essa abordagem conectou a observação de dados reais à exploração de cenários baseados em análises estatísticas, fornecendo insights aplicáveis à prática.
Conclusão
Os estudos evidenciam que decisões reprodutivas, como intervalos entre partos e composição do rebanho, afetam diretamente a pegada de carbono do leite. A aplicação de práticas que promovam a eficiência reprodutiva pode reduzir a intensidade de emissão de gases de efeito estufa, ao mesmo tempo em que traz ganhos em produtividade e alinha a produção leiteira às demandas por práticas de baixo impacto ambiental.
Referências
Abreu et al. Contrast of low and high reproductive performance on herd composition. 37th Annual Meeting of The Brazilian Embryo Technology Society (SBTE), 2024. Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1168387/1/Contrast-of-low-and-high-reproductive-performance-on-herd-composition.pdf. Acesso em: 26 nov. 2024.
Carvalho et al. Effect of calving interval on productivity and carbon footprint. 37th Annual Meeting of The Brazilian Embryo Technology Society (SBTE), 2024. Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1168386/1/Effect-of-calving-interval-on-productivity-and-carbon.pdf. Acesso em: 26 nov. 2024.