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Do desmatamento à regeneração: o que o agro pode ensinar (e aprender) com o cientista Antônio Nobre

Em entrevista à Folha de S. Paulo, o cientista Antônio Nobre alerta para o “elefante na sala” da ação climática: a destruição das florestas tropicais. Às vésperas da COP30, sua mensagem encontra eco em outro território, o das fazendas regenerativas, onde o campo começa a reconectar produtividade e equilíbrio ecológico.


O “elefante na sala” da ação climática


O climatologista Antônio Nobre, referência internacional em estudos sobre a Amazônia e o ciclo hidrológico da floresta, prepara-se para levar à COP30 um recado direto: não haverá futuro climático possível se a humanidade continuar ignorando o papel vital das florestas no funcionamento do planeta.


Em sua entrevista à Folha de S. Paulo, Nobre afirma que o desmatamento é o elefante na sala” da ação climática, o problema central que muitos preferem não enxergar. Ele lembra que a floresta é uma máquina biológica complexa que cria o próprio clima, transformando energia solar em umidade e estabilidade atmosférica. As árvores funcionam como bombas naturais, sugando água do solo e devolvendo-a à atmosfera em forma de vapor. Esse processo, conhecido como bomba biótica de umidade, é o que mantém o ciclo de chuvas no continente e alimenta os “rios voadores” que distribuem a umidade amazônica por toda a América do Sul.


Quando essa engrenagem é rompida, o colapso se espalha: secas, enchentes e perda de fertilidade dos solos tornam-se sintomas de um sistema climático em desequilíbrio.


Da floresta ao campo: um mesmo sistema vivo


Para Nobre, restaurar a floresta é uma forma de reconstruir a infraestrutura climática do planeta. Ele fala em florestas como tecnologia biológica de última geração, um conceito que inverte a lógica da exploração, e que pode inspirar também o agronegócio.


Afinal, os sistemas agrícolas e pecuários não estão fora da natureza, mas dentro dela. Na pecuária, práticas regenerativas, como o manejo de pastagens biodiversas, a integração lavoura-pecuária-floresta e o uso de bioinsumos, têm mostrado que é possível produzir alimentos e restaurar funções ecológicas ao mesmo tempo.


O mesmo princípio da floresta, o de capturar carbono, reciclar nutrientes e gerar vida, pode ser aplicado ao solo agrícola. Nesse sentido, o campo e a floresta são dois lados do mesmo sistema climático: um não prospera sem o outro.


Pecuária regenerativa e o papel do carbono no solo


Enquanto Nobre defende o reflorestamento em larga escala, o agro regenerativo trabalha na biologia do solo. A lógica é semelhante: reativar processos naturais. Encarar a fazenda como parte da Natureza.


Ferramentas como a PEC Calc, desenvolvida pela ESGpec, ajudam produtores a estimar as emissões de gases de efeito estufa na produção de leite, enquanto indicadores como o ESG Farm Score e o BEA Score avaliam o engajamento das fazendas em práticas sustentáveis, incluindo aspectos econômicos, sociais (bem-estar) e de governança.  


Essas tecnologias aplicam metodologias científicas, como as diretrizes do IPCC e o método de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), para traduzir dados de campo em indicadores de sustentabilidade, fortalecendo a conexão entre a ciência e a gestão rural.


A COP30 e o reencontro entre ciência e campo


A COP30, que será realizada em Belém, simboliza o reencontro entre o conhecimento tradicional da floresta e a inovação tecnológica do campo. Bruna Silper, cofundadora da ESGpec, estará presente no evento levando a pauta da pecuária regenerativa brasileira.


Sua participação reforça a visão de que Regenerar envolve proteger a floresta e manter o solo saudável e produtivo. Mantendo o sistema integrado, equilibrado e biodiverso.


“Medir, reduzir e regenerar são etapas de uma mesma agenda”, explica Bruna. “O produtor que melhora a eficiência alimentar do rebanho e conserva a biodiversidade está contribuindo para o mesmo equilíbrio que Antônio Nobre defende: o de um planeta funcional.”


Regenerar é reconciliar


As ideias de Nobre e as ações do campo convergem em um ponto: regenerar é mais do que reduzir emissões, é reconstruir relações entre natureza, economia e sociedade. Assim como a floresta gera o próprio clima, a agropecuária regenerativa pode gerar sua própria resiliência.


O “elefante na sala”, afinal, não é apenas o desmatamento. É também a falsa separação entre produção e conservação. A COP30 será o palco para mostrar que o Brasil tem uma vantagem estratégica, e uma responsabilidade histórica, de provar que a floresta e o campo podem caminhar juntos.



Fonte: Entrevista “Cientista Antônio Nobre pretende mostrar na COP30 o ‘elefante na sala’ da ação climática”, Folha de S. Paulo, 2025.


elefante na sala

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