top of page

Despertar sustentável

Atualizado: 12 de jul.

A pecuária tem parte na produção dos gases de efeito estufa, mas seriam os ruminantes as peças-chave para a solução desse entrave global?




Valor agregado


Em contraste às vozes que afirmam que os ruminantes estão utilizando terras que poderiam ser usadas para a produção de alimentos para consumo humano, estão os bovinos entregando proteína de alto valor nutricional. Considere o seguinte: para cada 0,12 kg de alimentos destinados a nós, mas consumido pelos ruminantes, eles produzem 0,45 kg de produto de origem animal.


Além disso, para cada 45 kg de alimentos à base de plantas, produzidos para humanos, 16 kg de subprodutos são gerados. Esses podem ser fornecidos aos ruminantes, reduzindo, assim, a quantidade de subprodutos destinados à decomposição.


Dito de forma mais prática: os ruminantes utilizam, em grande parte, alimentos inelegíveis para o nosso consumo e ocupam terras não agricultáveis. Ao mesmo tempo, consomem fontes de proteína de pior qualidade, para produzirem alimentos proteicos riquíssimos – leite e carne. Esses tópicos e muitos outros foram o foco da conferência Net Zero Carbon, realizada no MVP Dairy (Celina, Ohio/EUA), em novembro passado.


Gases de efeito estufa


A produção de leite resulta na liberação de gases que causam o efeito estufa, como metano, óxido nitroso e dióxido de carbono. Algumas das principais fontes de emissão dos gases de efeito estufa nas fazendas leiteiras são a produção de alimentos, a fermentação e a produção de dejetos.


Embora as estimativas sejam divergentes quanto à contribuição da emissão de gases pelo rebanho leiteiro, o melhor relatório que avalia sistemas inteiros indica que a pecuária contribui com, aproximadamente, 4% dos gases de efeito estufa, dos quais o leite participa com 1,9% do total nacional das emissões, nos EUA.


A redução teórica máxima de gases de efeito estufa nos sistemas de produção de leite é cerca de 56%, proveniente, principalmente, das reduções de metano liberado pelos dejetos. No entanto, para atingir completamente a neutralidade de carbono, precisaríamos tornar a produção de alimentos um “sumidouro” de carbono, compensando, assim, a produção de metano. A utilização de eletricidade produzida por gás natural renovável, em substituição aos combustíveis fósseis, também poderá contribuir para a neutralidade de carbono na indústria de laticínios.





Horizonte de 10 anos


A mudança na concentração de metano na atmosfera é o que impacta o potencial de aquecimento climático. Se pudermos diminuir a concentração de metano nessa camada gasosa que envolve o nosso planeta, o potencial de aquecimento será reduzido.


Isso é possível porque o metano, ao contrário do dióxido de carbono, é degradado de forma relativamente rápida na atmosfera – 10 anos, aproximadamente. À medida que a cadeia leiteira melhorou em eficiência, com menos vacas necessárias para produzir mais leite, a produção de metano, por unidade de leite produzido, diminuiu. No entanto, a concentração de animais e dejetos nas fazendas, bem como o maior consumo de alimentos, resultou em maior produção de metano por vaca.


Como somos incapazes de impedir que as vacas produzam metano a partir da fermentação ruminal, nossas estratégias concentram-se no manejo de dejetos – reconhecido como o setor com maior potencial para transformação do cenário – e na forma como produzimos alimentos para o rebanho. Além disso, provavelmente há oportunidades para o segmento de genética reduzir a produção de metano pelos bovinos, embora esse mecanismo faça parte da fisiologia dos ruminantes e não possa ser completamente eliminado.


Sustentabilidade em ação


Representantes da MVP Dairy e Danone discutiram seu compromisso com a agricultura regenerativa e como estão avaliando suas práticas e estratégias atuais para melhorar a sustentabilidade. A agricultura regenerativa foi definida como a proteção do solo, da água e da biodiversidade, além do compromisso com o bem-estar animal.


Atualmente, a Danone tem mais de 56.000 hectares inscritos em um programa de saúde do solo. Uma das estratégias utilizadas nas fazendas é cultivar forrageiras de cobertura para aumentar o sequestro de carbono, resultando na redução estimada de 3% a 5% dos equivalentes líquidos de dióxido de carbono (CO2).


A organização está usando um programa de terceira parte para coletar dados relacionados à sustentabilidade e estimar a pegada de carbono das fazendas. A Danone trabalha em parceria com as fazendas leiteiras, para desenvolver um plano de melhoria contínua e sustentável, incluindo a produção dos alimentos e o manejo de dejetos.


COMO SOMOS INCAPAZES DE IMPEDIR QUE AS VACAS PRODUZAM METANO A PARTIR DA FERMENTAÇÃO RUMINAL, NOSSAS ESTRATÉGIAS CONCENTRAM-SE NO MANEJO DOS DEJETOS E NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS PARA O REBANHO


Com foco no manejo de dejetos, a Dairy Management Inc. iniciou estratégias para atingir a meta da iniciativa de zero carbono, até 2050. O projeto piloto planeja adotar tecnologias e otimizar práticas em até cinco fazendas leiteiras, para que essas tornem-se laboratórios vivos em favor da sustentabilidade.


O objetivo com a proposta é entender o impacto coletivo da implementação de práticas e disseminar, amplamente, informações para o setor.


À exemplo das tecnologias avaliadas para redução dos gases de efeito estufa temos os sistemas de manejo de dejetos: a flotação por ar dissolvido, nitrificação/ desnitrificação e os evaporativos, que são reconhecidos pela maior contribuição na redução desses poluentes.


Avaliando metas


À medida que a agricultura e a indústria de laticínios desenvolvem metas de sustentabilidade ambiental, é importante entender onde as melhorias mais prováveis podem ser feitas e como avaliar as metas estabelecidas. Embora a maior parte do gás de efeito estufa emitida pelo gado leiteiro seja o dióxido de carbono, sua troca com o solo e as plantas nega que ele seja um foco primário.


Logo, o metano produzido pela fermentação ruminal e pelo armazenamento e utilização de dejetos deve ser o foco principal na avaliação de metas e redução de equivalentes de dióxido de carbono.


A AGRICULTURA REGENERATIVA FOI DEFINIDA COMO A PROTEÇÃO DO SOLO, DA ÁGUA E DA BIODIVERSIDADE, ALÉM DO COMPROMISSO COM O BEM-ESTAR ANIMAL


Medindo o sucesso


Pesquisadores da Ohio State University desenvolveram ferramentas para medir a liberação de gases de efeito estufa do solo e dos animais, especialmente com foco no metano. A liberação de metano pode ser avaliada em animais em confinamento ou manejados em sistemas de pastagens. Como o sequestro de carbono das fazendas leiteiras continua sendo de interesse, as estimativas serão muito mais significativas se forem específicos da fazenda, comparadas aos resultados regionais ou generalizados.


Melhorar a precisão na estimativa das emissões de gases de efeito estufa será importante para que as fazendas leiteiras possam avaliar, efetivamente, se estão atingindo suas metas de sustentabilidade.


Uma pergunta levantada durante o debate foi: “Você, honestamente, acha que as pessoas se preocupam com a sustentabilidade?” Cada orador revelou uma perspectiva diferente ao responder à pergunta.


Conforme a percepção dos envolvidos no debate, jovens querem entender como a atividade agropecuária está ajudando ou prejudicando os esforços em favor da sustentabilidade. Além disso, foi apontado que investidores se preocupam em atingir as metas de sustentabilidade e, como resultado, empresas estão implementando planos de ação para reduzir as emissões de carbono.


Os palestrantes indicaram que existem soluções que podem não estar disponíveis agora, mas podem ser desenvolvidas com o foco e financiamento na sustentabilidade. Ainda mais importante, ficou claro que a indústria continuará sendo questionada se é o problema ou a solução, quando se trata de sustentabilidade ambiental.


ABRIL 2022, VOLUME: 167, Nº 5

PUBLICAÇÃO ORIGINAL: “WILL DAIRY BE A SOLUTION FOR GREENHOUSE GASES?.

EDIÇÃO DE ABRIL DE 2022 DA HOARD’S DAIRYMAN.

REPUBLICAÇÃO AUTORIZADA DA EDIÇÃO DE ABRIL DE 2022, DA HOARD’S DAIRYMAN.

COPYRIGHTS 2022 BY W.D. HOARD & SONS COMPANY, FORT ATKINSON, WISCONSIN.

APADTAÇÃO: EQUIPE REVISTA LEITE INTEGRAL.


JACKIE BOERMAN

EMILY LUC

MAURICE EASTRIDGE

BARRY BRADFORD

Os autores são Zootecnistas da Purdue University, Purdue Extension, Ohio State University e Michigan State University, respectivamente

Comments


bottom of page