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Carbon Free Summit e o papel da agropecuária na descarbonização

Atualizado: 26 de set.

No dia 24 de julho de 2025, participei do Carbon Free Summit, realizado no Cubo Itaú, em São Paulo. Com o tema “Descarbonização agora: o futuro não espera”, o evento reuniu um público comprometido a entender o tamanho do desafio climático e, mais do que isso, acelerar soluções.


Saí de lá com a convicção reforçada de que nossas atividades agrícola e pecuária não podem ficar fora dessa agenda, e, indo além, serão parte essencial da solução. Vi diferentes setores falando em medir, agir, conectar com fornecedores, comunicar bem para dentro e fora do setor. Bem parecido com o que temos falado no nosso meio, não é? A seguir, compartilho alguns dos pontos que mais me marcaram.


Carbon Free Summit

A conta do clima já chegou


Carlos Nobre fechou o evento e foi direto ao ponto: os dados mostram que já passamos dos 1,5 °C de aumento na temperatura média global. Ainda não sabemos se isso é definitivo, mas a marca já foi ultrapassada. Em janeiro de 2024, chegamos a 1,74 °C. o aumento da temperatura global não é mais projeção, é realidade. Com ela vêm eventos extremos, perdas econômicas e riscos que atingem todos os setores, e, com força particular, a agropecuária.


A boa notícia que Carlos Nobre reforçou é que o Brasil tem tudo para virar esse jogo até 2040 e zerar as emissões líquidas no nosso país. Temos terra, tecnologia e papel essencial na produção de alimentos e na restauração ambiental. Mas isso exige ação, e a chance, ele disse, está nas mãos da nossa geração.


O preço (e o valor) do carbono


Foi mencionado que cada 0,1 °C a mais na temperatura global custa ao Brasil cerca de R$ 5,6 bilhões por ano. É um número que fala por si. O mercado de carbono foi amplamente discutido no evento. Para mim, ficou claro o papel deste mercado como ferramenta de diferenciação positiva e de estímulo à ação rápida, principalmente das empresas privadas. Quem mensurar com consistência, reduzir e comprovar, vai atrair investimento. Quem não seguir estes passos, ficará fora do jogo.


Medir é como olhar o caixa da fazenda


Uma analogia feita durante o evento me marcou: trabalhar no inventário de carbono ou na pegada de carbono do produto uma vez ao ano é como fechar os olhos para o caixa da fazenda e avaliá-lo só no fim do ano. É perigoso, ineficiente, e se o resultado for ruim, o tempo para agir já terá passado.


Precisamos integrar os dados de emissão ao nosso dia a dia, com plataformas que permitam analisar metas mês a mês e corrigir rotas com inteligência. Na ESGpec, temos investido justamente nisso. Aliás, esta foi uma das reflexões que me fez ver que estamos no caminho certo: perceber que estamos levando para a pecuária métricas, recursos, tecnologias similares às que setores já maduros na agenda ESG utilizam.


Escopo 3 e cadeia de valor: ninguém faz nada sozinho


Engie, Natura, Renault, RD Saúde, entre outras, compartilharam como estão envolvendo seus fornecedores na transição climática. Chamou minha atenção como ações simples (capacitação, diagnóstico de maturidade e oferecimento de plataformas para inventário pelas empresas aos fornecedores) estão fazendo a diferença na base de fornecedores.


A Natura, por exemplo, está automatizando a coleta de dados para seu inventário. Já a Engie exige o inventário de seus parceiros estratégicos em até dois anos em compromisso firmado com termo de adesão a um plano de descarbonização. Está claro: medir escopo 3 é essencial. E, para isso, precisamos conversar com quem está na base da cadeia.


Agropecuária regenerativa: menos emissão, mais produtividade


A agropecuária representa de 20 a 25% das emissões totais do Brasil, principalmente devido a emissões associadas a mudanças no uso da terra. Aqui temos algumas alternativas, como modelos regenerativos que aumentam a produtividade por hectare, reduzem as emissões e tornam as propriedades mais resilientes a eventos climáticos.


Antônio Gilberto, da Bayer, compartilhou um dado que reforça esse ponto: enquanto a média da soja brasileira tem uma pegada de carbono de 1.450 kg CO₂/ton (segundo a Embrapa), produtores altamente eficientes podem chegar a apenas 250 kg CO₂/ton. Isso mostra a importância de conhecer os nossos números, a pegada dos nossos produtos, ao invés de depender exclusivamente de bancos de dados internacionais.


A hora é agora e nós podemos liderar


Foi inspirador ouvir tantas experiências, desafios e soluções. Mas mais inspirador ainda foi ouvir Carlos Nobre destacando a agropecuária, incluindo o leite, como parte da solução.


Essa transformação exige dados, engajamento, políticas públicas e, acima de tudo, coragem. Estamos diante da década decisiva. Temos tudo para transformar a pecuária brasileira e contribuir com impacto global.


Seguimos juntos nessa jornada.

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