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Leite de vaca vai deixar de existir?


Volta e meia, em muitos veículos de imprensa e redes sociais, me deparo com uma afirmação ou questionamento: ‘O leite de vaca vai deixar de existir?’


O tema pode dar arrepio em quem vive “de” e “para” a produção deste nobre alimento. Confesso desconforto e dificuldade de compreensão sobre as abordagens superficiais e infundadas sobre o assunto. Mas, repensando, cheguei à conclusão que a atitude mais adequada é ler e interpretar tudo o que se publica sobre o tema, dentro das possibilidades de uma reles mortal, já que o assunto tem sido cada vez mais discutido.


Sei perfeitamente que os movimentos contra os lácteos e a favor de bebidas vegetais são relevantes. E, além disso, têm um enorme potencial de mobilização e engajamento. Também acompanho e entendo a busca por atender às necessidades dos consumidores e as demandas globais relacionadas às mudanças climáticas, mas eu entendo, também, que as frentes não são necessariamente antagônicas.


Ler, entender, questionar e contra-argumentar é muito importante e todos nós, envolvidos das mais variadas formas na cadeia produtiva do leite podemos fazer isso com base em dados e fatos.


1 litro de leite x 1 litro de bebida vegetal?


Uma das abordagens muito comum é a comparação direta de 1 litro de bebida vegetal com 1 litro de leite, no que se refere à emissão de gases de efeito estufa (GEE). Para mim, esta comparação não tem sido justa, já que o leite e as bebidas vegetais apresentam valores nutricionais distintos e geralmente a densidade nutricional é superior nos produtos lácteos (tabela 1 e 2). Ou seja, a comparação deve ser feita considerando-se na conta o quanto que cada alimento fornece de nutrientes para suprir as exigências de cada indivíduo.


Produção de proteínas nobres, como as de origem animal, presentes no leite, necessárias para suprir a necessidade da população


Avaliando o equivalente proteico de alimentos à base de planta, ainda que a experiência degustativa possa ser interessante, há uma grande discrepância em relação ao leite de vaca. O que ocorre é: as bebidas plant-based são, na maioria dos casos, muitas vezes mais pobres em proteína do que o leite de vaca (tabela 1 e 2), ou seja, ao calcularmos o impacto ambiental, em termos de proteína, a conta fica muito mais complexa e não é só calcular a pegada de carbono, por exemplo de 1 litro de leite de vaca x 1 litro de bebida vegetal.


Tabela 1 - Comparação do valor energético e protéico entre o leite e amêndoa e o leite de vaca

Fonte (item)

Item

Energia (Kcal)

Proteína (g)

Leite de amêndoa adoçado

Por porção (240 g)

91

1,0

Leite de vaca (1% de gordura)

Por porção (244 g)

102

8,2

Tabela 2 - Comparação entre o teor e a disponibilidade de aminoácidos essenciais entre o leite e amêndoa e o leite de vaca

Fonte (item)

Item

Lisina

Metionina + Cistina

Treonina

Triptofano

Leite de amêndoa adoçado

Por porção (240 g)

26,8

17,5

28,3

10,0

​mg/g de proteína

26,8

17,5

28,3

10,0

Digestibilidade

0,88

0,88

0,88

0,88

Aminoácidos essenciais digeríveis (mg/g de proteína)

23,6

15,4

24,9

8,8

Leite de vaca (1% de gordura)

Por porção (244 g) (mg/g de proteína)

688

264

349

105

​mg/g de proteína

83,7

32,1

42,5

12,8

Digestibilidade

0,95

0,94

0,90

0,90

Aminoácidos essenciais digeríveis (mg/g de proteína)

79,5

30,2

38,2

11,5

Valor relativo

​Leite de vaca (1% de gordura)/Leite de amêndoa adoçado

270%

Fonte das tabelas:

Review: Optimizing ruminant conversion of feed protein to human food protein

G. A. Broderick

US Dairy Forage Research Center, University of Wisconsin and Broderick Nutrition & Research, LLC, Madison, WI 53705 USA


E vou mais longe, considerando uma densidade de nutrientes na qual cada bebida atenda mais de 15% da exigência diária de um adulto por dia, o leite apresenta vantagem por emitir 7,7 e 2,2 menos CO2e* por kg de nutriente comparado às bebidas de aveia ou soja respectivamente. Isso já foi mostrado no trabalho de Smedman et al., de 2010, com base em dietas típicas dos países do norte europeu.


*CO2 equivalente


Smedman, Annika et al. “Nutrient density of beverages in relation to climate impact.” Food & nutrition research vol. 54 10.3402/fnr.v54i0.5170. 23 Aug. 2010, doi:10.3402/fnr.v54i0.5170



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